quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Legalismo

 Pessoal, como vocês sabem, nossa série sobre santidade foi encerrada (há mais de um mês, por sinal. Que vergonha passar tanto tempo sem postar, Vanedja, sua ridícula!). Mas aqui vai um áudio interessante.

É do programa de rádio que Vanessa Meira e seu esposo Pr. Isaac apresentam na Rádio JACA, chamado "E agora, pastor?". Exibido toda sexta às 22h, com reprise aos sábados, às 14h30.

Muito a ver com o que dissemos nesta série, só que dito de forma melhor. Garanto. 

Clique aqui para ouvir.

Para ouvir outros áudios do programa "E agora, pastor?", clique aqui.

"A santidade é leve, o que pesa é a mochila do legalismo" (@ofariseu).

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O que é santidade? VII

Chegamos ao ponto final. Eu sei que havia prometido em algum lugar encerrar esta minissérie (nem tão mini assim) em 6 posts, mas não me controlei, pronto.

Recapitulando o que vimos aqui: santidade e vitória sobre o pecado são possíveis. Aliás, é impossível não obtê-las ao andar com Cristo. Mas santidade e vitória sobre o pecado não são de nossa alçada; são o resultado da caminhada com Cristo. Ele quem prometeu santificação, logo, o cristão entrega toda a sua vida a Ele e ELE que se vire para torná-lo santo. (Não se preocupe, Ele se vira nisso muito bem). De modo que o alvo principal da vida cristã é permanecer em Cristo, e não se concentrar em qual nível da escala de santidade você se encontra. Acontece que tem muita gente se enganando e se deixando enganar por essa fixação em santidade, ao invés de deixá-la a cargo de quem de direito. Daí é que surgem aquelas séries de pretenso “reavivamento” nas igrejas, cuja atração, longe de ser Cristo, é a satanização de tudo.

Quer saber a verdade, minha gente? Satanás infiltrou suas mentiras em nossos púlpitos. Sabemos que ele tem sido vitorioso alastrando coisas como promiscuidade doutrinária e sexual nas igrejas, mas esse não é seu único método. Ele possui estratégias mais sutis. Desde muito tempo, crendo ensinar santidade, os pastores, os líderes, os membros das igrejas, estão empenhados em ensinar o povo a pecar. Sim, pois, TUDO o que não provém de fé é pecado” (Rm14:23).

Entenda, não há NADA bom em mim e em você (Rm3:11-18). Tudo aquilo que podemos fazer de genuinamente bom e altruísta vem de DEUS. TUDO o que não provém de fé é pecado”. TUDO. Até mesmo coisas boas, até mesmo nossa justiça (Is64:6), até mesmo buscar santidade e vitória sobre o pecado é pecado.

Cristo já conseguiu essas coisas. Antes de buscá-las, devemos buscar Àquele que já as conseguiu. Devemos buscar Cristo primeiro, de onde procede toda boa dádiva e todo dom perfeito” (Tg1:17), e, certamente, vitória sobre o pecado e santidade nos serão acrescentadas (Mt6:33).

O cristão não vive em função de santidade. Aliás, o cristão não vive em função de nada que não seja Cristo. Primeiro se busca a Cristo e fatalmente a santidade virá no pacote. Mas, buscar santidade não significa buscar a Cristo. Nesse caso, a ordem dos fatores altera drasticamente o produto. E, como vimos, o produto de um cristianismo fundamentado em busca por santidade não é nada bom.

Percebe agora uma das razões porque muitos se frustram e até abandonam o cristianismo? Durante toda a vida, a maioria de nós foi adestrada a viver um cristianismo inventado. Um cristianismo de plástico. Recebendo doses cavalares ou homeopáticas dessa heresia com roupagem santa. Têm mesmo toda razão em abandonar tal espécie de religião apostatada.

Você não imagina o quanto eu gostaria de possuir suficiente habilidade verbal para lhe dizer O QUANTO esse conceito antibíblico de santidade como causa da vida espiritual, bem como o conceito de abandono dos pecados como alvo da vida cristã, são nefastos.

Converse com diferentes tipos de incrédulos e preste atenção em como, curiosamente, muitas vezes o diálogo caminha para a questão da impossibilidade de se viver conforme os padrões exigidos pela religião e o sentimento de culpa e frustração que isso gera. Claro! Só pode! Não é de admirar que tantos enxerguem a religião como algo pernicioso. A religião de grande parte dos religiosos de fato o é.

Você, porém, de agora em diante, sempre que ouvir qualquer conversa, sermão ou palestra na qual se coloque santidade e vitória sobre o pecado como alvo primeiro da vida cristã terá base bíblica suficiente para fugir e, com espírito cristão, alertar a outros do sutil engano.

Se você esteve concentrando sua vida cristã nisso, não se preocupe, a maioria de nós também estivemos. E, vez por outra, ainda caímos na armadilha. Mas, agora, você tem a chance de permitir que Deus conserte sua vida e coloque as coisas no rumo certo, e assim, por tabela, permitir que “o mesmo Deus da paz [lhe] santifique em tudo” (1Ts5:23).

Não estou aqui numa cruzada anti-institucional, anti-liderança nem nada disso. Estou apenas dizendo (e evidenciando biblicamente) que nem tudo o que ouvimos - mesmo em nossas amadas igrejas - é bíblico. Boa parte de nós aceita essa verdade, mas não reconhece as implicações dela. Isso implica provar TUDO pela Palavra. E provar TUDO pela Palavra implica provar TUDO MESMO. Cada palavra dos líderes, pregadores, pastores, escritores, cantores e membros comuns. Cada verso dos hinos consagrados pela cristandade tradicional ou pelo filão gospel moderno. Cada parte da doxologia de cada culto que você vê, por mais antiga e solene, ou contemporânea e animada que seja. Os clichês gospels e todo o senso comum religioso existente nas igrejas e em nossa sociedade. Provar a você mesmo, suas filosofias, suas crenças, seus conceitos, suas verdades absolutas. Enfim, “à lei e ao testemunho. Se eles não falarem desta maneira jamais verão a alva” (Is8:20). Pois, “se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus” (1Pd4:11). E o que não estiver de acordo com isso, “seja anátema” (Gl.1:8 e 9). Talvez você se impressione com a quantidade de coisa extra ou antibíblica que lhe é imposta como mandamento divino, imposta até por você mesmo.

Lembre-se, há um só caminho. Uma só porta (Mt7:13-14). E Cristo é o Caminho (Jo14:6). Cristo é a porta (Jo10:7). As igrejas pregam isso, mas, infelizmente, têm colocado tantos caminhos pelo caminho e pintado tão diversas portas que o que vemos boa parte das vezes não passa de uma caricatura do cristianismo. Uma espécie de Babilônia de doutrinas soteriológicas cobertas de misticismo e superstições tão inúteis (redundância! Existe superstição útil?) que angustiam. Sério! Angustia-me de verdade! Deus nos livre! “Sai dela, povo Meu” (Ap18:4)!

Não estou lhe convidando para, necessariamente, sair da denominação na qual você está. A Bíblia está lhe convidando para, esteja em qual denominação estiver, julgar TUDO à luz da Palavra.

Incrível como um anjo caído e vencido engana tão bem os supostos crentes, não é mesmo? Basta vir com um papinho pretensamente piedoso, falando em santidade e coisa e tal... Aí, aquele lado moralista de meia-tigela que habita a maioria de nós, aflora e fala mais alto que os ditames da Palavra de Deus. Acorda, minha gente! Bíblia!

Não importa o quanto algum raciocínio aparente sabedoria e piedade (Cl.2:20-23). É bíblico? Abracemos, não importa o quão doloroso seja. Não é bíblico? Sai fora!

Chega de cair em sermões inflamados, oratória envolvente, ideias bonitas e frases impactantes, mas vazios de verdade e profundidade bíblica de fato.

Chega, povo! Vamos pra Bíblia! E não estou falando apenas de livros, revistas, conversas, debates e blogs sobre a Bíblia. Estou falando de Bíblia mesmo. Nada contra eles, são muito valiosos até certo ponto. Mas por que será que às vezes acaba sendo tão mais fácil nos determos nas palavras de algum célebre (ou não) autor cristão do que demorar-nos na Palavra de Cristo em si, não é verdade? Vamos acabar com isso?

Pelo amor de Deus, querido, aprenda a filtrar o cristianismo apartando-o dos mitos que o rondam. O cristianismo real funciona, liberta e salva. Mas, para poder discernir entre um e outro, você precisa estar alicerçado sobre a Rocha, e não construir sua casa sobre a areia movediça das filosofias humanas (Mt7:24-27).

“Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos” (2Co13:5). Aceita o desafio? Examinemos todas as coisas (1Ts5:21) à luz da Palavra.

Nossa minissérie sobre santidade terminou, mas nossa macro-série sobre conceitos continua. Prosseguiremos aqui aprendendo juntos a ser bíblicos, e assim não sermos agitados “por todo vento de doutrina” (Ef4:14). Muitos utilizam essa passagem apenas quando o assunto é Trindade, Lei, criacionismo, estado do homem na morte, etc., e não se preocupam em ser levados por ventos de doutrina quando a questão não tem uma cara tão especificamente doutrinária, mas atinge diretamente seu cotidiano como cristão - assim como se dá com este tema da santidade e os que veremos ainda nesta série.

Oro para que você não permita que isso aconteça em sua vida e para que esta série lhe seja útil neste intento.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O que é santidade? VI

Ei, vamos continuar um pouquinho analisando os versos que o pessoal da "santificação paranóica" usa ou pode usar em algum momento? Vicei-me!

“Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu” (Lc5:28). “Pronto! Olha aí. Aqui fica claro que antes precisamos deixar nossos pecados para seguir a Jesus”. Primeiro que esse texto não fala, necessariamente, em abandonar pecados. Em ocasiões semelhantes, homens deixaram coisas boas, como instrumentos de trabalho, para seguir Jesus (Mt4:20).

Segundo que as pessoas que deixaram as coisas haviam acabado de ter um encontro com Jesus, por isso deixaram. 

Então, continuamos na mesma do que cansamos de falar até aqui: mudança real só vem como resultado de ter estado com Cristo. E Ele nem pediu que aquelas pessoas deixassem nada, elas simplesmente deixaram, porque algo muito forte acontece com alguém quando esse alguém se encontra com Jesus. Mas tem gente achando que mais forte do que fazer as pessoas se encontrarem com Jesus é fazê-las deixar comportamento x, y, z. Acham que pregação forte, de impacto, de reavivamento é falar disso e das astúcias de Satanás.

Claro, você não encontrará esse ensino em parte alguma da Bíblia, mas tem gente que jura que quem não segue isso é que está indo contra Bíblia. Cada coisa, né? E cada passagem bíblica que pareça dizer que é preciso falar em santificação para podermos estar firmes diante de Deus, e não que a santificação é um indicativo de estarmos firmes diante dEle... Qualquer passagem que aparente dar a mais pálida ideia disso, ensina justamente o contrário, como vimos até agora. Desafio quem quiser trazer qualquer uma.

A Bíblia inteira é simplesmente Deus querendo reencontrar-se com o ser humano. É o relacionamento perdido em Gênesis e restaurado em Apocalipse; o miolo consiste em Deus nos chamando a essa restauração relacional.  Pronto. A Bíblia em 140 caracteres!

Agora, me digam uma coisa, se TODOS os exemplos bíblicos de transformação, mudança de vida e reforma se deram pós-encontro com Cristo, por que cargas d’água não se ensina direto o povo a encontrar-se com Cristo, MEUDEUSDOCÉU??

E agora, vou usar um pouquinho o jogo oposto e falar sobre o Maligno; parece que isso confere um ar de solenidade e santidade ao que se está dizendo (coisa maluca, né? Hoje em dia é bom falar do mau).

Não nos enganemos, temos um inimigo esperto. O aspecto em que ele mais tenta o verdadeiro cristão não é exatamente em adulterar, cobiçar ou matar. Ele não se importa se estamos entretidos com coisas santas, assuntos teológicos ou escrevendo para blogs cristãos. O importante para ele é que estejamos desligados da comunhão com Cristo. É nesse intento no qual ele gasta todo o suor. Pois, enquanto estivermos absortos em qualquer coisa que não seja Cristo, não importa se em vencer o pecado e alcançar santidade, o inimigo sabe que estamos perdidos.

O plano das hostes inimigas para com os cristãos pode ser resumido num só: colocar empecilhos que façam o cristão crer – mesmo inconscientemente – que pode viver aquele dia sem abrir totalmente o coração a Deus como a um amigo e sem meditar na Palavra. Como sei disso? Ora, é o mais inteligente a se fazer! Porque uma vez desligado da Videira, o inexorável destino de um ramo é secar e ser lançado ao fogo (Jo15:4-6).

Assim, as forças malignas atacam justamente o cerne da questão. Sabem que sem completa dependência da Bíblia e de uma vida de oração, sem relacionamento pessoal e diário com Cristo, estamos à mercê de quaisquer tipos de pecado. 

Enquanto agonizarmos lutando uma luta com um ser esmagadoramente mais forte do que nós, convidando Cristo para ser nosso auxiliar, achando que isso é depender dEle, estaremos perdidos.

Convenhamos! Brilhante isso, hein? Satanás nos ensina a desviar do foco, fazendo-nos acreditar que a santidade é algo de nossa alçada e/ou fazendo-nos condicionar nossa santidade a fatores outros, aos quais a Bíblia nunca condicionou. Ao fazer isso, colocamo-nos perigosamente em mãos inimigas, pois, ocupamo-nos com o que não deveríamos e esquecemos da verdadeira coisa com a qual deveríamos nos ocupar: nutrir nossa amizade com Cristo.


Pior é que, geralmente, quando se vê um crente falando sobre os planos de Satanás (também não dá para entender como tem TANTO crente gastando mais tempo falando disso do que de Cristo), ele conta de mil e uma teorias conspiratórias, chips malignos, mensagens subliminares, estilos de música e de roupa proibidos... Enquanto desvia sua atenção do simples e real intento do mal: ele não quer que você ore nem se fundamente na Palavra. Só isso.

Cristo diz que somos “santificados pela fé [nEle]” (At26:18). Então, quem diz que somos santificados por abandonar tal e tal comportamento é mentiroso ou, sem saber, está a serviço da mentira.

Nesse ponto, alguém poderá dizer: “Não existe fé sem obras”. Claro, não existe fé sem obras porque as obras são o produto da fé, a inevitável manifestação exterior de uma transformação interior (Tg2:17-18). Apenas junto de Deus podemos ter fé e, por isso, operar boas obras genuínas (Fp2:13; Tg1:16-17). Honesto não seria, então, direcionar o foco em ensinar o povo a estar junto de Deus, a conhecê-Lo, já que só assim podemos cumprir genuinamente Sua vontade?

Às vezes me pergunto porque há tantos pretensos reformadores nas igrejas com uma mensagem totalmente diversa do que a Bíblia prega, e, ainda assim, são aclamados por muitos. Meu palpite é que está na natureza humana e carnal crer que pode fazer algo por si mesma – fruto do orgulho e pretensa auto-suficiência que nos são próprios.

Por mais que tais reformadores falem sobre a necessidade de Deus, o discurso na prática é outro. Se cressem e vivessem isso de fato, preocupariam-se em ensinar o povo a conhecer a Deus, e então esse conhecimento se encarregaria de lhes dar força e discernimento para cumprir verdadeiramente a vontade do Pai.

Mostrar o pecado deveria apenas servir de evidência do quanto o povo está afastado de Deus e como apelo para voltar a Ele, e assim, que Deus extirpasse os pecados de Seu povo. Mas o que vemos é um apelo para parar de pecar, santificar-se para voltar a Deus. E isto é impossível!

Veja que o próprio Deus diz em Oséias 3:6 que seu povo “está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento”. Alguns pensam que esse conhecimento é um conhecimento doutrinário. Mas não é a esse tipo de conhecimento ao qual esse verso, necessariamente, refere-se, mas ao conhecimento do próprio Deus; não ao conhecimento sobre Deus. Pois veja que todo o livro de Oséias trata especificamente sobre conhecer a Deus e Seu caráter, não exatamente suas doutrinas (Os3:20; 4:6; 5:4; 6:3 e 6).

Não que o conhecimento doutrinário não seja importante. Não me entenda mal. Ele é importantíssimo! Tanto acredito nisso que aqui vocês verão muitos posts especificamente doutrinários, e me indigna que nós cristãos tenhamos sido tão fracos doutrinariamente. O que não acredito é numa ênfase exagerada no que a Bíblia não enfatiza assim. Ela enfatiza muito mais o conhecer a Deus. Aliás, conhecer a Deus é a própria vida eterna! (Leia Jo17:3). Contudo, infelizmente, não é esse o discurso de tantos pregadores nas mais diversas denominações – inclusive na minha – que falam muito mais sobre conhecer os planos de Satanás e sobre abandonarmos isso e aquilo.

Não percebem eles que, dessa forma, contribuem para o perecimento do povo, ao qual falta conhecimento de Deus. Ao invés de esperança, podem trazer desesperança a longo prazo, quando a pessoa percebe que não consegue fazer a vontade de Deus. E por que não consegue? Por que ainda se veste de tal maneira? Por que ainda assiste a tal programa de TV? Não! Porque ainda não conhece a Deus. Todo o pecado que ela acaricia, seja oculta ou publicamente, é justamente o resultado de não conhecer a Deus. (Sem falar que muitos a-do-ram chamar de pecado ao que a Bíblia nunca chamou, mas isso é assunto para outra conversa).

Olha, o discurso é tão manjado que nos possibilita prever cada ponto da contra-argumentação. “Mas escutando tal tipo de música e comendo tal tipo de comida, você não terá vontade de conhecer a Deus, pois sua mente estará embotada com coisas do mundo, as quais são inimigas de Deus”. Como se você pudesse produzir sua própria vontade de ir a Deus por meio de auto-sacrifícios. Como se não fosse unicamente o sacrifício de Cristo que produzisse em você a vontade de conhecer a Deus (Leia Fp2:13 e Ef2:1-5).

Falando agora da realidade que mais conheço, a de minha denominação. Não sei se é o amor adventista aos vegetais, mas a religião de muito adventista do sétimo dia parece mais uma espécie de fotossíntese: precisam do Sol (Deus), mas apenas para dar a força inicial para que eles mesmos produzam seu próprio alimento, sua própria força, sua própria santidade. Acorda, crente! Não seja tão ludibriável, rapaz! 

É como querermos destruir uma árvore que dá maus frutos arrancando seus frutos e os lançando ao chão. Ignorando que há todo um tronco e raiz gigantescos, bem em baixo de nosso nariz. Os frutos que arrancamos, apenas nos distraem da raiz, contribuem para a proliferação de outras árvores ruins e servem de húmus para o solo, fazendo com que as árvore más cresçam cada dia mais fortes. Enquanto nos concentrarmos em nossa santidade, a floresta do pecado crescerá e se enraizará cada vez mais – ainda que subterraneamente, oculta dos olhos humanos – porque não nos concentramos na raiz do problema: precisamos conhecer a Deus, e apenas dessa forma, por tabela, obteremos santidade e venceremos o pecado.

E então, por que pessoas com um discurso tão distante do que a Bíblia ensina fazem tanto sucesso entre algumas alas da cristandade? Porque lhes dão exatamente o que a sua natureza carnal quer ouvir: “Você pode fazer alguma coisa quanto a sua condição. Você pode fazer por merecer. Pode ser digno da salvação. Alcançar a vida eterna caso se esforce o suficiente e faça Deus sentir orgulho de você”.

Enquanto algumas pessoas não querem nada que exija o mínimo de esforço, outras só querem se tiverem de se esforçar. Tudo bem quando isso se refere a trabalhos seculares, mas não está nada bem quando se refere à salvação. Não se engane... Satanás tem um discurso para cada perfil de carnalidade. O discurso da graça barata, aos preguiçosos; e o velado discurso do “Santifique-se. Ajude Deus a salvá-lo, agindo corretamente”, aos trabalhadores. Ambos os discursos rebaixam o sacrifício de Cristo. Ambos levam igualmente para o inferno.

O Senhor diz: “A tua ruína, ó Israel, vem de ti, e de mim, o teu socorro” (Os13:9). Não adianta dizer que cremos nisso. Nossas palavras e ações devem ser condizentes com tal crença. Nosso socorro vem do Senhor, não de nossa santidade.

Creio já haver deixado claro, mas apenas para salientar aos menos atentos: longe de mim pretender dar carta branca para pecar ou insinuar que o pecado deve ser algo corriqueiro na vida do cristão. Simplesmente, venho tentando colocar o foco no lugar certo.

Então, querido, com base em tudo o que vimos até aqui, sempre que você ouvir falar em santidade em termos de impecabilidade absoluta, e não de comunhão absoluta com Jesus, fuja. Fuja, meu amigo! Isso é invencionice mundana

Nossa luta como cristãos reside em buscar a Cristo, não em vencer pecado, pois isso é obra de Cristo em nós; não nossa. A queda, em quaisquer pecados que você conseguir imaginar, advém do pecado de não permanecer nEle, pois, “todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1 Jo3:6). “Todo aquele que permanece nele”, e não todo aquele que passa seus dias estudando os planos de um anjo vencido ao invés do Plano da Redenção, ou persuadindo-se de que precisa ser santo e parar de pecar.

Com a mesma intensidade que o cristão verdadeiro foge de filosofias que dizem que ele pode viver vida libertina, deve fugir desse tipo de filosofia que nos coloca numa busca incessante por santidade e bom comportamento, condicionando a isso nossa comunhão com Deus. Uma ideia é tão antibíblica quanto à outra, tão artimanha do mal quanto a outra. Fuja! Fuja de ambas!


Leia também os outros textos desta série

sábado, 19 de junho de 2010

O que é santidade? V

Entre outras coisas, vimos no texto passado que, Evangelho não é mudança de vida; mudança de vida é apenas o resultado inevitável na vida de quem recebe o Evangelho. 

Pois bem, muitos já estão cansados de saber que precisam mudar. Então, onde está a boa-nova em dizer o que tantos já sabem? Isso mais facilmente traz desespero ao invés de esperança. 

Não que seja desnecessário falar sobre mudança de vida. A Bíblia fala sobre mudança de vida. Só não somos biblicamente autorizados a aderir a esse reducionismo mundano de transformar nisso a vida cristã.

Mais do que natural que o cristão queira uma vida santa, pois, com Deus  no coração, não dá outra, ele vai querer fazer a vontade do Pai; e o Pai quer o melhor para nós. Mas, além da ênfase equivocada em cima dessa mudança, geralmente as pessoas se perdem também no “como”.

- Sei que preciso mudar, mas como faço isso?
- Abandone seus pecados!
- E como abandono meus pecados?
- Santificando-se a cada dia.
- E como eu faço para me santificar?
- Deixando de ver, ouvir, comer e vestir tudo o que não agrada a Deus.
- Mas como eu consigo deixar essas coisas?
- Estando cada dia mais perto de Deus.
- E como exatamente eu faço para estar cada dia mais perto de Deus?
- Nossos pecados fazem separação entre nós e Deus, então, você deve abandonar seus pecados!

Obviamente, você percebeu que o diálogo acima é uma conversa tautológica, que não chegará a lugar algum. E é justamente esse tipo de cristianismo, que não chega a lugar algum, o único ao qual muitos têm acesso.

Nesse ponto, facilmente, alguém poderá citar um verso muito conhecido, sobretudo pelos adventistas do 7º dia: “O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável” (Pv28:9). “Está vendo?”, dirão alguns, “Primeiro precisamos guardar a lei, abandonar nossos pecados, santificar-nos, se quisermos chegar-nos a Deus”. Ignoram que o texto fala dos que, deliberadamente, fazem ouvidos moucos aos ditames divinos (v. 14) e com isso já demonstram não permanecer nEle, pois, “todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1 Jo3:6). Cristo atende a toda oração de quem permanece nEle: Se permanecerdes em Mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será concedido (Jo15:7).

O texto de Provérbios é destinado àqueles que desviam seus ouvidos, viram as costas, recusam-se resolutamente a ouvir e não estão nem aí para atender a vontade de Deus. Se não querem ouvir a Deus, graças a Deus que Ele também não os ouve. Pois um coração longe de Deus é perito em pedir coisas para sua própria ruína (Je.17:9; Jo15:7; Tg4:3).

Sendo assim, é biblicamente inaceitável usar uma passagem como essa para fundamentar a ideia de que devemos nos santificar a fim de sermos aceitos por Deus. Não é disso que a passagem trata. Primeiro Deus nos aceita, e então, inevitavelmente, nos santifica.

Expliquemos melhor essa questão, até mesmo para depois não dizerem que estou ensinando que podemos viver em pecado e ao mesmo tempo estarmos salvos. Jamais poderia dizer tal coisa sem incorrer em rebaixamento do sacrifício de Cristo, que veio nos salvar do pecado (Mt1:21), e não no pecado. A questão é que em todas as ocasiões em que a Bíblia apresenta Deus se negando a aceitar oração, sacrifício ou oferta de alguém é porque esse alguém não o fez com verdadeira contrição. Se há deliberada falta de santificação, esse é o simples indicativo de que a pessoa não está em espírito contrito. Sendo assim, porque enfatizar tanto a santificação, se ela é apenas a ponta do iceberg?

Veja um exemplo da biblicidade desse conceito: “Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, por que as vossas mãos estão cheias de sangue (Is1:15). O capítulo fala muito em purificação, etc. Porém, é nítido nesse verso, bem como em todo capítulo 1 de Isaías, que o que Deus condena é a hipocrisia (vimos em "O que é santidade? III" um pouco da origem dessa hipocrisia). O que Deus condena é o viver em pecado e ainda assim viver seu “cristianismo” como se nada estivesse acontecendo.

É fato que Deus pede que nos purifiquemos, mas o método de Deus parece bem diferente daquele que tantos têm usado e ensinado. Veja o que Ele diz mais adiante em Isaías 1: [1.º]Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; [2.º]ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is1:18). Percebe? A maneira divina de ser puro e livrar-se do pecado é: “Vinde, e assim podereis ser santificados”. A maneira humana é: “Santificai-vos, e assim podereis vir”. Ah, meu amigo, tem tanta gente pregando isso de forma velada por aí! Preste mais atenção nos sermões, palestras e conversas dos cristãos em geral, nas suas próprias, para ver o quanto desse conceito está entranhado em toda parte.

Uma passagem usada pelos adeptos dessa que podemos denominar de santificação paranóica é: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza” (Tg4:7-9). Hum! E agora? O texto parece claro ao dizer que primeiro devemos santificar-nos para que Deus nos aceite, não é?

Analisemos mais de perto. O verso 9 conclama a lamentar, chorar e se entristecer. Parece claro quanto a isso também, não é? Contudo, se assim for, há aqui uma contradição com outros textos das Escrituras, como: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”, “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp4:4 e 11). Nunca vi ninguém que usa essa passagem de Tiago para falar de santificação como alvo da vida cristã, pregar com base nela que a vida cristã deve ser aflita, lamentosa e triste. Aí, nessa parte, num instante sabem fazer exegese e contextualização.

Então, vamos lá? Vamos fazer uma exegese simples, porém, séria do texto de Tiago para não termos problemas? Primeiramente, examinemos o contexto do que ele estava falando. O assunto era: “soberbos” (v. 6). Lembra-se que falamos um pouco sobre dependência de Deus e rendição a Ele, no texto passado? Pronto. Olha aí esse conceito de novo! O autor está falando contra os soberbos, aqueles que não querem render-se, sujeitar-se a Deus. Veja que o texto exorta: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus” (v. 7).

O texto nos ensina como é que se resiste ao diabo (v.7), como é que se purifica: sujeitando-se a Deus. Somente pela graça de Cristo. Note que antes de Tiago falar em purificação ele fala em sujeição e também na graça divina concedida ao pecador para resistir (v. 6). Nada de purificação por meio do abandonar tal estilo musical ou tal peça de roupa. Não estou dizendo que devemos escutar ou vestir qualquer coisa; estou dizendo simplesmente que o texto não fala sobre isso. Ao contrário, ele aborda o assunto bem da maneira que estamos expondo aqui desde o primeiro post desta minissérie: dependência e sujeição.

Então, se o texto não fala sobre determinado assunto, não devemos inventar. Alguns chamam isso de homilética e acham que está tudo certo. Deve ser homilética mesmo: interpretação com base nas filosofias dos “homi”, em filosofias que são nada mais que moralismo gospel, não conceitos bíblicos. Falam que devemos seguir a Bíblia, mas na hora de especificar o que é santificação e como atingi-la, apelam para toda sorte de convenção social moralista, menos para a Bíblia.

Note também que o texto fala sobre limpar o coração (v. 8). Mais uma vez, vemos que a Palavra de Deus soa diferente dessa ênfase exagerada que vemos por aí acerca de limpar-nos de coisas exteriores.

O termo “pecadores” (v. 8), no original, refere-se a uma classe específica de pecadores. A palavra no grego é hamartolos, que significa pecador contumaz, homem mau, indivíduo cujo pecado é aberto, evidente, notório” (veja, aquele mesmo pecador deliberado que vimos em Provérbios 28:9 e Isaías 1). Então, o recado é para os soberbos e impenitentes, não para aqueles que assistem a jogos de futebol ou usam maquiagem ao mesmo tempo que pretendem manter uma vida de comunhão com Cristo.

Apelam tanto à paranóia de santificação e abandono de pecado dizendo que é o pecado que faz separação entre Deus e nós. E isso é verdade (Is59:2). Acontece que, para cometermos qualquer pecado, é preciso primeiramente separar-nos de Deus, romper nosso relacionamento com Ele. É impossível um ramo que está ligado à Videira Verdadeira – o que significa que está sendo nutrido por ela – dar frutos ruins ou não dar frutos (Mt7:18; Jo15:5). Como alguém pode dar maus frutos sendo nutrido pelo próprio Deus? Logo, para pecar, temos de nos desligar da Videira, nem que seja por um instante.

É impossível pecar junto de Deus. Veja que os discípulos precisaram andar afastados de Jesus por alguns instantes para, só então, ter aquele vergonhoso debate sobre quem seria o maior no reino (Mc9:33-34). Pedro teve que deixar de olhar para Jesus por alguns segundos e começar a focar sua atenção em outras coisas para começar a afundar, naquela madrugada no lago (Mt14:34).

Uma vez separados de Deus, pecamos. Ao pecarmos, separamo-nos um pouquinho mais. Por nos separarmos mais, pecamos ainda mais. Pecando ainda mais, separamo-nos mais ainda; o que, por sua vez, faz com que avancemos mais ainda no pecado... É uma bola de neve, um círculo vicioso, representado no esquema abaixo.
O que fazemos, então, para quebrar o ciclo? Paramos de pecar? Parece lógico, não? Pois, se pararmos de pecar, paramos de nos afastar. Mas não é assim que funciona. Não conseguimos parar de pecar (Rm3:10-18). Está em nossa natureza humana. Em nosso DNA. É o que adoramos fazer (Rm7:19). É só o que sabemos fazemos, por mais que isso nos machuque. Só estando junto a Cristo para que Ele nos conceda uma nova natureza, por meio de um novo nascimento diário.

Não estou dizendo que um mau comportamento não influencie na comunhão com Deus. Como vimos no esquema, é um ciclo, então uma coisa certamente influencia a outra; mas é um ciclo que se origina no afastamento de Deus. É nesse ponto, então, que o ciclo deve ser quebrado. Só apresentamos mau comportamento quando apresentamos mau relacionamento com Deus, nem que seja por alguns instantes.

Assim, se você está se concentrando em parar de pecar, está principiando no lugar errado, e isso fatalmente lhe levará a um daqueles dois caminhos que vimos no início de O que é santidade? III. Se você quer mesmo parar de pecar, pare de tentar, renda-se e deixe Cristo lutar por você. 

A santificação principia no relacionamento com Deus e serve para fazer com que nos relacionemos melhor com Ele. Qualquer ênfase em santificação em si mesma é antibíblica. Qualquer ênfase em santificação por meio de coisas exteriores é antibíblica. Ninguém peca porque parou de se santificar, mas pára de se santificar porque pecou em parar de se relacionar com Deus. Sendo assim, por que não principiarmos pelo lugar certo? Por que não paramos de enganar os outros e a nós mesmos como se nossos paliativos fuleiros de “vista isso”, “coma aquilo”, “pare de ouvir aquilo outro” nos levassem para mais perto de Deus?

Meu amigo, nossos pecados fazem separação entre nós e Deus. Sabe o que isso significa? Sabe realmente?? Há um escabroso e gigantesco abismo a separar o pecador de Deus. Cristo é nosso único mediador (2Tm2:5), nossa única ponte para chegarmos ao Pai. CRISTO é a ponte! Tem noção do que isso significa? Tem noção do quanto é sério e blasfemo construirmos pontes de moral e bons costumes? Pontes de vestuário e reforma de saúde? Elas parecem seguras a princípio, mas depois se mostram como isopor em meio ao abismo; ao que nos precipitamos no despenhadeiro do pecado, não importa o quão corretos pareçamos.

Paulo disse que a cruz é escândalo (1Co1:18). E como ele estava certo! Para muitos, é escândalo substituir nossas belas e limpinhas obras (aos nossos olhos), nosso vegetarianismo e nossas vestes decentes, por um madeiro rude e ensanguentado. Mas a única ponte segura é essa cruz. Faça amizade com o homem da cruz, conheça-O e Ele lhe conhecerá.

A Bíblia nunca disse que no último dia os que ficarão à parte do reino serão aqueles que não substituíram suas calças por saias, mas aqueles que não substituíram suas vestes pelas vestes do Cordeiro (Mt22:11-13). São aqueles que se preocuparam em cumprir uma porção de coisas exteriores (Mt7:22), mas não se preocuparam em relacionar-se com Ele, em conhecê-Lo intimamente; por isso, Ele declarará nunca tê-los conhecido (Mt7:23; 25:12).

Conhecer a Deus. ESSA é a coisa mais importante. A ISSO devemos devotar nossa vida. ESSA é a ênfase bíblica. Por que, então, tem-nos sido pregado outro evangelho (Gl.1:6-9)?

Devemos buscar a Cristo diariamente porque Ele nos amou primeiro (1Jo4:19), por isso O amamos, e não simplesmente porque Ele pode fazer de nós meninos e meninas bonzinhos. Se você não buscar conhecer a Cristo por causa dEle mesmo ao invés de por causa da santidade que Ele tem para lhe oferecer (lembra que já falamos sobre a teologia da prosperidade espiritual?), ficará sem ambos. Busque a Cristo, e certamente você terá todo o resto (Mt6:33).


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quinta-feira, 3 de junho de 2010

O que é santidade? IV

Vimos até aqui que o chamado à santidade é algo real e possível na vida de todo verdadeiro cristão.

Vimos também que DEUS é quem provê nossa santidade, por isso, não devemos nos preocupar especificamente em buscá-la, mas em permanecer nEle, e todo o restante - inclusive a santidade - vem por tabela.

É bom dizermos que alguns tomam a santidade como sinônimo de relacionamento com Cristo. Embora eu considere mais adequado colocá-los em níveis distintos, reconheço que, se você chama o seu relacionamento com Cristo de santificação, comunhão, cristofagia (sei lá, acabei de inventar), ou o que for, no fim das contas não importa; o que importa é se você se relaciona com Ele ou não. Até porque temos mais o que fazer do que ficar discutindo minúcias semânticas, né?

Então, se você quer chamar sua comunhão de santificação, mesmo que eu não considere este o emprego mais ajustado do termo, digo a você: “Vai fundo, meu amigo! Busque essa comunhão que você, por algum motivo, denomina de santificação”.

O que não dá é continuarmos achando, mesmo que não teoricamente, que alguma mudança pode ocorrer em nosso caráter se abandonarmos tal e tal coisa. É CRISTO quem muda seu caráter à medida que você contempla o caráter dEle (2Co3:18), inclusive retirando progressivamente do seu comportamento tudo aquilo que não agrada a Deus, por ser nocivo a você. Todo o resto é conversa fiada.

Sim, repetirei isso à exaustão e farei uma lavagem cerebral nos leitores com essa história. Porque chega, né? Dentro do perfil crente que a cristandade tem apresentado ao mundo, praticamente, ou se é libertino ou obcecado por “santificação”, como se isso fosse a finalidade de todas as coisas.

Visto que essa ideia está enraizada no imaginário popular cristão desde sabe-se lá quando, vou repetir neste blog a ideia de que nosso alvo NÃO é a santificação, como se não houvesse amanhã.

Biblicamente, é a presença de Deus que santifica algo ou alguém (Êx3:5; 1Co6:19), e não a presença ou ausência de determinados comportamentos. Eles podem apenas ser indicadores de se você tem permanecido nEle ou não. Só isso. Santidade não pode ser alcançada enquanto a condicionamos a coisas e comportamento, ao invés de condicioná-la a uma Pessoa e relacionamento.

No post anterior, vimos que a santidade é um fruto, não foi? Biblicamente, biblicamente (sim, porque eu amo ser chata repetindo essa palavra, na prática, tão esquecida), para quê serve um fruto? Ouçamos a resposta de Cristo: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt7:16, 20); “porque pelo fruto se conhece a árvore” (Mt12:33). Ou seja, um fruto serve para indicar se estamos em Cristo, pois Ele também disse: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto” (Jo15:5).

Veja, o fruto não faz o ramo permanecer na videira. O fruto apenas indica se o ramo está totalmente ligado à videira. Viver uma vida de santidade não liga você a Cristo, apenas indica se você está nEle, pois "se alguém está em Cristo, é nova criatura" (2Co5:17).

Claro que quanto mais você se aproximar de Cristo, mais santificada será sua vida; e com uma vida mais santificada, mais você estará em condições de contemplá-Lo mais de perto. É um ciclo, ilustrado abaixo por meio do seguinte esquema (by Tartarugas Ninja. Só falta a cor azul):


Essa luta por alcançar santidade não é de todo infundada. Por textos como: "Esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado" (1Co9:27), alguns creem que devem  martirizar-se para alcançar santidade. Cuidado! A má interpretação de textos como esse também fizeram a festa na Idade Média para "embasar biblicamente" toda a teologia da autoflagelação e indulgências; as quais sobrevivem até hoje, por meio desses conceitos anti-bíblicos e cretinos de santidade que nos são ministrados.

Santidade não é algo que produzimos mediante luta, treino, exercício ou disciplina. Não somos capazes disso, pois, a "nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Ef6:12).

Um autor cristão chamado Morris Venden, comenta:  

“Se não estamos sequer combatendo carne e sangue, então como podemos lutar? Como se combate um espírito? Há somente uma maneira. Você terá que se valer do auxílio de outro Espírito para realizar o combate por você. E é isso que Deus prometeu fazer por nós”[1].

Essa luta não é sua, meu amigo, é de Deus. Tudo o que Ele quer é uma oportunidade de lutar por você essa batalha que Ele já venceu naquele dia em que o único sangue santo e inocente do mundo escorreu naquela cruz do calvário. Sua luta é reconhecer sua impotência para a luta e permitir que Deus lute por você.

Você não deve entregar parte da luta, deve entregar a luta TODA a Cristo e ocupar-se em lutar a luta que realmente nos cabe.

A luta do cristão, ao contrário do que podem pensar alguns, não é em prol de sua Redenção, mas de sua Rendição. É a luta para renunciar o eu (1Co9:27; 15:31; Gl2:19-20), reconhecer nossa dependência obrigatória de Cristo e ir a Ele todos os dias a fim de conhecer melhor Aquele que é tão imensamente gracioso para conosco.

E claro, não podemos esquecer que até mesmo nessa luta de entregar a luta a Deus é Deus quem nos concede a vitória, já que não temos forças nem mesmo para querer ir a Ele, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp2:13), pois "tudo provém de Deus" (2Co5:18), "toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto" (Tg1:17).

Muitos ficam temerosos ante a ideia de não atrelarmos santidade à luta pela ausência total de pecado. Porém, garanto que só o fazemos porque a Bíblia o faz. Biblicamente, os santos, os justos  também podem vir a pecar, mas, quando isso acontece, há uma tristeza tão inominável no coração dele que o faz imediatamente correr de volta aos braços do Pai.

Sabe, o justo e o injusto estão muito próximos e também muito distantes. Morris Venden costuma dizer que “a semelhança entre o justo e o ímpio é que ambos pecam, mas a diferença é que o justo sabe chegar ao arrependimento”. E essa não é apenas uma bela frase, ela está confirmada em 1 João 2:1: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”.

Paulo também descreve isso de certa forma. Leia com atenção: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. (...) Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm7:19 e 20 a 8:1). Veja que Paulo estava em Cristo Jesus, não mais havia condenação para ele, embora, vez por outra, consentisse que sua natureza carnal tomasse o controle.

Quando todos entendermos que o propósito da vida cristã não é permanecer justo, e sim, permanecer nO Justo (1Jo2:9) e quando entendermos a diferença brutal entre essas duas coisas, aí saberemos o que é paz genuína. Aquela espécie de paz “que excede todo o entendimento” (Fp4:7), ao invés de viver a farsa do cristianismo cuja principal mensagem é: “Santifique-se”.

Digo farsa porque esse não é o Evangelho. O Evangelho – sempre me ensinaram que significa “boa-nova” – são as boas-novas de salvação, as boas-novas de que você não precisa mais fingir ser o que não é, mas pode ser tudo o que precisa ser em Cristo Jesus. E, obviamente, a santidade vem quando você recebe e aceita o Evangelho genuíno, a verdadeira boa-nova. A mudança de vida é um resultado inevitável na caminhada dos que interiorizam o Evangelho em sua alma, mas NÃO é O Evangelho.


[1] VENDEN, Morris L. 95 Teses Sobre Justificação Pela Fé. Casa Publicadora Brasileira. Tatuí: 2000, p. 205.


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quinta-feira, 27 de maio de 2010

O que é santidade? III

Atente para uma coisa: Buscar santidade pode fazer com que você nunca a alcance!

Há sérios problemas em se buscar santidade. Um deles é que muitos acham que o caminho correto para chegar a ela é o do passar a fazer algumas coisas e deixar de fazer outras. Raciocinam desta maneira: “Tenho que mudar meu comportamento, deixar de fazer isso e aquilo, se quiser ser santo e ir para o céu”.


Atenção: Tal raciocínio só poderá lhe levar a dois caminhos:

1) Frustração, se você não possuir autocontrole para, aparentemente, vencer o pecado.

2) Soberba, se você possuir autocontrole (coisa que até incrédulos podem ter). Caso seja uma pessoa naturalmente auto-determinada, a soberba poderá lhe sobrevir por você conseguir controlar aqueles pecados mais nítidos, enquanto as pessoas menos disciplinadas caem no pecado, à vista de todos.


O caminho da soberba traz consigo a hipocrisia. Você não mais bebe ou adultera, porém, não perdoa seu próximo, costuma falar ou pensar apenas o mal das pessoas, seus próprios interesses são sua prioridade, enxerga-se como melhor, mais sábio, mais santo do que os que não são tão determinados quanto você, orgulha-se por sua santidade, ou outras coisas do gênero. Você continua no pecado. Porém, como se nada estivesse acontecendo, dedica-se àqueles pecados, por assim dizer, menos barulhentos.


Se você baseia seu cristianismo na maneira como você se comporta, mais cedo ou mais tarde enveredará por um desses dois caminhos. É o destino de qualquer pessoa que baseia sua vida no que ela faz, e não no que Cristo fez e faz por ela.

A questão da "soberba cristã" já foi um pouco abordada em Porque não suporto crentes e Onde estão os fariseus do mundo?. Sendo assim, vamos nos deter um pouco na questão da frustração.

Quantas pessoas não abandonam, pensam, ou já pensaram, em abandonar o cristianismo porque, segundo elas, não têm alcançado resultado? Ora, mas que tipo de resultado elas esperam? Nem falo daquelas que esperam casa na praia e carro do ano. Falo das que se frustram porque não têm alcançado “santidade”. Pior que essa santidade é definida e medida segundo o critério humano, não segundo o critério bíblico.

Muitos se indignam com a Teologia da Prosperidade, mas apenas quando ela abrange o campo material. Contudo, devemos também tomar certo cuidado com a tácita Teologia da Prosperidade Espiritual. Obviamente, prosperidade espiritual é um alvo bem mais nobre. E, justamente por isso, muitos caem.

Um dos problemas está em limitar espiritualidade à santidade. Santidade é um fruto da vida espiritual, não a vida espiritual em si. Vida espiritual consiste em conhecer o caráter de Cristo (Os6:3; Jo17:3). A impressão progressiva do caráter de Cristo no nosso (santificação) é o resultado natural de conhecê-Lo.

Assim, santidade faz parte da vida espiritual, mas tão-somente como resultado, como fruto. E tem gente perdendo o tempo e a paz esperando frutos, enquanto deveria preocupar-se em deixar o Espírito Santo regar a semente e cultivar a planta.

Cristo diz: “Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade” (Lc11:39); “Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo!” (Mt23:26). Todavia, ainda assim as pessoas se angustiam esperando modificação de fora para dentro, enquanto deveriam esperar modificação de dentro para fora.

Isso acontece porque geralmente não entendemos, quando muito possuímos um entendimento meramente intelectual, daquela velha e verdadeira história de que o santo não faz o bem para ser santo, ele faz o bem por ser santo. A Bíblia diz que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt11:34), ou seja, aquilo que você é em seu interior é o que transborda para o exterior, e não o contrário. 

Para os que ainda não entenderam tal conceito, Jesus tem mais algumas palavras: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!” (Mt23:27).

Notemos que Pedro afirma: “Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade” (2Pd3:11). Por passagens como essa, muitos depreendem que devem buscar santidade, o que não está de todo errado, até porque a Bíblia diz que sem santificação “ninguém verá o Senhor” (Hb12:14). A mais pura verdade! Falso é colocar a santidade como anterior a um relacionamento diário com Cristo e como foco principal da vida cristã.


Veja que Pedro, poucas sentenças depois, preocupa-se em encerrar sua epístola com as seguintes palavras: “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pd3:18). Nosso esforço, primeira e principalmente, deve concentrar-se nisso, não em santificação. Os únicos que serão achados vivendo “em santo procedimento e piedade” por ocasião da volta de Cristo serão aqueles que estiveram ocupados em relacionar-se com Ele, em conhecê-Lo.

Aliás, Pedro não só se preocupa em encerrar sua epístola com essa ideia que estamos expondo, como também em iniciá-la. Quer ver? Dá uma olhada no  capitulo 1: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (1Pd1:3). Então, como chegamos “à vida e à piedade”? Mais uma vez, “pelo conhecimento completo” de Cristo. E é impossível conhecer alguém sem relacionar-se com esse alguém.


Portanto, biblicamente, não resta dúvida, não é mesmo? Se você quer ser santo, o caminho não é procurar ouvir músicas “santas”, andar com pessoas “santas”, comer coisas “santas”, vestir roupas “santas”. O caminho para a santidade é permanecer no Santo, Jesus Cristo.

Como fazer isso? Já lemos no primeiro texto desta série que I Timóteo 4:4 e 5 afirma que isso se dá pela “Palavra de Deus e pela oração”. O que passar disso vem do Maligno, pois, a Bíblia nunca colocou o alcançar santidade em termos de como você se comporta, mas em termos de com quem você se relaciona, de quem você é amigo (Tg4:4).

Entendo que não seja fácil confiar em minha sanidade mental, mas não é o caso agora. Nunca estive tão lúcida como no momento em que escrevo estas palavras. Embora talvez pareça chocante para alguns, é bom deixarmos mais do que claro que o santo não se preocupa em ser santo. Simplesmente porque essa não é a preocupação dele, essa é a "preocupação" de Deus em relação a ele. O santo se "preocupa" apenas em buscar a Deus, o restante vem como acréscimo. “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt6:33).

Não foi Deus quem prometeu me santificar? Então, Ele que se preocupe com isso. E não é presunção pensar assim, ao contrário, presunção é achar que o Soberano do Universo precisa da minha e da sua ajuda, mesmo quando não a pediu.

"Mas fomos 'chamados para ser santos' (Rm1:7; 1Co1:2)". Sim, chamados para que DEUS nos torne santos, não para que gastemos nossos esforços com algo que só Ele pode fazer.

Temos que aprender a descansar nEle não apenas quanto ao suprimento de bênçãos materiais, mas também quanto às bênçãos espirituais. “E, o meu DEUS, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, CADA UMA de vossas necessidades” (Fp4:19).

Alguns conseguem descansar nEle quanto a saber que Ele não lhes deixará morrer de fome ou quanto à concessão de qualquer outra benção material, mas, incrivelmente, andam ansiosos quanto à concessão de algo no qual nosso Pai está muito mais interessado em mos comceder: nosso sustento espiritual. “Não andeis ansiosos de COISA ALGUMA; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp4:6).

Permanecer nEle e deixar que ELE se preocupe e trabalhe em sua santidade é uma faceta daquela maneira que a Bíblia lhe incita a andar: “lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade [inclusive quanto à sua santidade], porque Ele tem cuidado de vós” (1Pd5:7). Creia nisso e viva!


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