segunda-feira, 21 de junho de 2010

O que é santidade? VI

Ei, vamos continuar um pouquinho analisando os versos que o pessoal da "santificação paranóica" usa ou pode usar em algum momento? Vicei-me!

“Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu” (Lc5:28). “Pronto! Olha aí. Aqui fica claro que antes precisamos deixar nossos pecados para seguir a Jesus”. Primeiro que esse texto não fala, necessariamente, em abandonar pecados. Em ocasiões semelhantes, homens deixaram coisas boas, como instrumentos de trabalho, para seguir Jesus (Mt4:20).

Segundo que as pessoas que deixaram as coisas haviam acabado de ter um encontro com Jesus, por isso deixaram. 

Então, continuamos na mesma do que cansamos de falar até aqui: mudança real só vem como resultado de ter estado com Cristo. E Ele nem pediu que aquelas pessoas deixassem nada, elas simplesmente deixaram, porque algo muito forte acontece com alguém quando esse alguém se encontra com Jesus. Mas tem gente achando que mais forte do que fazer as pessoas se encontrarem com Jesus é fazê-las deixar comportamento x, y, z. Acham que pregação forte, de impacto, de reavivamento é falar disso e das astúcias de Satanás.

Claro, você não encontrará esse ensino em parte alguma da Bíblia, mas tem gente que jura que quem não segue isso é que está indo contra Bíblia. Cada coisa, né? E cada passagem bíblica que pareça dizer que é preciso falar em santificação para podermos estar firmes diante de Deus, e não que a santificação é um indicativo de estarmos firmes diante dEle... Qualquer passagem que aparente dar a mais pálida ideia disso, ensina justamente o contrário, como vimos até agora. Desafio quem quiser trazer qualquer uma.

A Bíblia inteira é simplesmente Deus querendo reencontrar-se com o ser humano. É o relacionamento perdido em Gênesis e restaurado em Apocalipse; o miolo consiste em Deus nos chamando a essa restauração relacional.  Pronto. A Bíblia em 140 caracteres!

Agora, me digam uma coisa, se TODOS os exemplos bíblicos de transformação, mudança de vida e reforma se deram pós-encontro com Cristo, por que cargas d’água não se ensina direto o povo a encontrar-se com Cristo, MEUDEUSDOCÉU??

E agora, vou usar um pouquinho o jogo oposto e falar sobre o Maligno; parece que isso confere um ar de solenidade e santidade ao que se está dizendo (coisa maluca, né? Hoje em dia é bom falar do mau).

Não nos enganemos, temos um inimigo esperto. O aspecto em que ele mais tenta o verdadeiro cristão não é exatamente em adulterar, cobiçar ou matar. Ele não se importa se estamos entretidos com coisas santas, assuntos teológicos ou escrevendo para blogs cristãos. O importante para ele é que estejamos desligados da comunhão com Cristo. É nesse intento no qual ele gasta todo o suor. Pois, enquanto estivermos absortos em qualquer coisa que não seja Cristo, não importa se em vencer o pecado e alcançar santidade, o inimigo sabe que estamos perdidos.

O plano das hostes inimigas para com os cristãos pode ser resumido num só: colocar empecilhos que façam o cristão crer – mesmo inconscientemente – que pode viver aquele dia sem abrir totalmente o coração a Deus como a um amigo e sem meditar na Palavra. Como sei disso? Ora, é o mais inteligente a se fazer! Porque uma vez desligado da Videira, o inexorável destino de um ramo é secar e ser lançado ao fogo (Jo15:4-6).

Assim, as forças malignas atacam justamente o cerne da questão. Sabem que sem completa dependência da Bíblia e de uma vida de oração, sem relacionamento pessoal e diário com Cristo, estamos à mercê de quaisquer tipos de pecado. 

Enquanto agonizarmos lutando uma luta com um ser esmagadoramente mais forte do que nós, convidando Cristo para ser nosso auxiliar, achando que isso é depender dEle, estaremos perdidos.

Convenhamos! Brilhante isso, hein? Satanás nos ensina a desviar do foco, fazendo-nos acreditar que a santidade é algo de nossa alçada e/ou fazendo-nos condicionar nossa santidade a fatores outros, aos quais a Bíblia nunca condicionou. Ao fazer isso, colocamo-nos perigosamente em mãos inimigas, pois, ocupamo-nos com o que não deveríamos e esquecemos da verdadeira coisa com a qual deveríamos nos ocupar: nutrir nossa amizade com Cristo.


Pior é que, geralmente, quando se vê um crente falando sobre os planos de Satanás (também não dá para entender como tem TANTO crente gastando mais tempo falando disso do que de Cristo), ele conta de mil e uma teorias conspiratórias, chips malignos, mensagens subliminares, estilos de música e de roupa proibidos... Enquanto desvia sua atenção do simples e real intento do mal: ele não quer que você ore nem se fundamente na Palavra. Só isso.

Cristo diz que somos “santificados pela fé [nEle]” (At26:18). Então, quem diz que somos santificados por abandonar tal e tal comportamento é mentiroso ou, sem saber, está a serviço da mentira.

Nesse ponto, alguém poderá dizer: “Não existe fé sem obras”. Claro, não existe fé sem obras porque as obras são o produto da fé, a inevitável manifestação exterior de uma transformação interior (Tg2:17-18). Apenas junto de Deus podemos ter fé e, por isso, operar boas obras genuínas (Fp2:13; Tg1:16-17). Honesto não seria, então, direcionar o foco em ensinar o povo a estar junto de Deus, a conhecê-Lo, já que só assim podemos cumprir genuinamente Sua vontade?

Às vezes me pergunto porque há tantos pretensos reformadores nas igrejas com uma mensagem totalmente diversa do que a Bíblia prega, e, ainda assim, são aclamados por muitos. Meu palpite é que está na natureza humana e carnal crer que pode fazer algo por si mesma – fruto do orgulho e pretensa auto-suficiência que nos são próprios.

Por mais que tais reformadores falem sobre a necessidade de Deus, o discurso na prática é outro. Se cressem e vivessem isso de fato, preocupariam-se em ensinar o povo a conhecer a Deus, e então esse conhecimento se encarregaria de lhes dar força e discernimento para cumprir verdadeiramente a vontade do Pai.

Mostrar o pecado deveria apenas servir de evidência do quanto o povo está afastado de Deus e como apelo para voltar a Ele, e assim, que Deus extirpasse os pecados de Seu povo. Mas o que vemos é um apelo para parar de pecar, santificar-se para voltar a Deus. E isto é impossível!

Veja que o próprio Deus diz em Oséias 3:6 que seu povo “está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento”. Alguns pensam que esse conhecimento é um conhecimento doutrinário. Mas não é a esse tipo de conhecimento ao qual esse verso, necessariamente, refere-se, mas ao conhecimento do próprio Deus; não ao conhecimento sobre Deus. Pois veja que todo o livro de Oséias trata especificamente sobre conhecer a Deus e Seu caráter, não exatamente suas doutrinas (Os3:20; 4:6; 5:4; 6:3 e 6).

Não que o conhecimento doutrinário não seja importante. Não me entenda mal. Ele é importantíssimo! Tanto acredito nisso que aqui vocês verão muitos posts especificamente doutrinários, e me indigna que nós cristãos tenhamos sido tão fracos doutrinariamente. O que não acredito é numa ênfase exagerada no que a Bíblia não enfatiza assim. Ela enfatiza muito mais o conhecer a Deus. Aliás, conhecer a Deus é a própria vida eterna! (Leia Jo17:3). Contudo, infelizmente, não é esse o discurso de tantos pregadores nas mais diversas denominações – inclusive na minha – que falam muito mais sobre conhecer os planos de Satanás e sobre abandonarmos isso e aquilo.

Não percebem eles que, dessa forma, contribuem para o perecimento do povo, ao qual falta conhecimento de Deus. Ao invés de esperança, podem trazer desesperança a longo prazo, quando a pessoa percebe que não consegue fazer a vontade de Deus. E por que não consegue? Por que ainda se veste de tal maneira? Por que ainda assiste a tal programa de TV? Não! Porque ainda não conhece a Deus. Todo o pecado que ela acaricia, seja oculta ou publicamente, é justamente o resultado de não conhecer a Deus. (Sem falar que muitos a-do-ram chamar de pecado ao que a Bíblia nunca chamou, mas isso é assunto para outra conversa).

Olha, o discurso é tão manjado que nos possibilita prever cada ponto da contra-argumentação. “Mas escutando tal tipo de música e comendo tal tipo de comida, você não terá vontade de conhecer a Deus, pois sua mente estará embotada com coisas do mundo, as quais são inimigas de Deus”. Como se você pudesse produzir sua própria vontade de ir a Deus por meio de auto-sacrifícios. Como se não fosse unicamente o sacrifício de Cristo que produzisse em você a vontade de conhecer a Deus (Leia Fp2:13 e Ef2:1-5).

Falando agora da realidade que mais conheço, a de minha denominação. Não sei se é o amor adventista aos vegetais, mas a religião de muito adventista do sétimo dia parece mais uma espécie de fotossíntese: precisam do Sol (Deus), mas apenas para dar a força inicial para que eles mesmos produzam seu próprio alimento, sua própria força, sua própria santidade. Acorda, crente! Não seja tão ludibriável, rapaz! 

É como querermos destruir uma árvore que dá maus frutos arrancando seus frutos e os lançando ao chão. Ignorando que há todo um tronco e raiz gigantescos, bem em baixo de nosso nariz. Os frutos que arrancamos, apenas nos distraem da raiz, contribuem para a proliferação de outras árvores ruins e servem de húmus para o solo, fazendo com que as árvore más cresçam cada dia mais fortes. Enquanto nos concentrarmos em nossa santidade, a floresta do pecado crescerá e se enraizará cada vez mais – ainda que subterraneamente, oculta dos olhos humanos – porque não nos concentramos na raiz do problema: precisamos conhecer a Deus, e apenas dessa forma, por tabela, obteremos santidade e venceremos o pecado.

E então, por que pessoas com um discurso tão distante do que a Bíblia ensina fazem tanto sucesso entre algumas alas da cristandade? Porque lhes dão exatamente o que a sua natureza carnal quer ouvir: “Você pode fazer alguma coisa quanto a sua condição. Você pode fazer por merecer. Pode ser digno da salvação. Alcançar a vida eterna caso se esforce o suficiente e faça Deus sentir orgulho de você”.

Enquanto algumas pessoas não querem nada que exija o mínimo de esforço, outras só querem se tiverem de se esforçar. Tudo bem quando isso se refere a trabalhos seculares, mas não está nada bem quando se refere à salvação. Não se engane... Satanás tem um discurso para cada perfil de carnalidade. O discurso da graça barata, aos preguiçosos; e o velado discurso do “Santifique-se. Ajude Deus a salvá-lo, agindo corretamente”, aos trabalhadores. Ambos os discursos rebaixam o sacrifício de Cristo. Ambos levam igualmente para o inferno.

O Senhor diz: “A tua ruína, ó Israel, vem de ti, e de mim, o teu socorro” (Os13:9). Não adianta dizer que cremos nisso. Nossas palavras e ações devem ser condizentes com tal crença. Nosso socorro vem do Senhor, não de nossa santidade.

Creio já haver deixado claro, mas apenas para salientar aos menos atentos: longe de mim pretender dar carta branca para pecar ou insinuar que o pecado deve ser algo corriqueiro na vida do cristão. Simplesmente, venho tentando colocar o foco no lugar certo.

Então, querido, com base em tudo o que vimos até aqui, sempre que você ouvir falar em santidade em termos de impecabilidade absoluta, e não de comunhão absoluta com Jesus, fuja. Fuja, meu amigo! Isso é invencionice mundana

Nossa luta como cristãos reside em buscar a Cristo, não em vencer pecado, pois isso é obra de Cristo em nós; não nossa. A queda, em quaisquer pecados que você conseguir imaginar, advém do pecado de não permanecer nEle, pois, “todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” (1 Jo3:6). “Todo aquele que permanece nele”, e não todo aquele que passa seus dias estudando os planos de um anjo vencido ao invés do Plano da Redenção, ou persuadindo-se de que precisa ser santo e parar de pecar.

Com a mesma intensidade que o cristão verdadeiro foge de filosofias que dizem que ele pode viver vida libertina, deve fugir desse tipo de filosofia que nos coloca numa busca incessante por santidade e bom comportamento, condicionando a isso nossa comunhão com Deus. Uma ideia é tão antibíblica quanto à outra, tão artimanha do mal quanto a outra. Fuja! Fuja de ambas!


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